sexta-feira, 30 de julho de 2010

Voar com liberdade para o céu

Eu não era tão feliz. Não fiz tudo o que eu quis. Era sonho. Era dor. E perdia a maior parte do tempo com coisas inúteis.
Digo inúteis porque sei que nunca voltaria a vê-las, tocá-las. Apesar de saber que fiz, por minutos poderia passar pela minha mente de que não o fiz, que foi apenas da minha imaginação. E então eu refazia. Mas logo depois procurava e não estava mais lá. Seria novamente um sonho? Alucinação? Impossível. Eu tinha certeza plena de que eu tinha feito, tinha feito e guardado ali. E era ali que deveria estar: uma folha com rabiscos fortes sob um lápis para que, pelo seu pouco peso, não fosse levada pelo vento como algo sem importância.
Então não foi o vento! - concluí.
Se eu não tivesse saído para respirar aquele vento fresco eu não teria o perdido. Puro egoísmo meu. Mas eu fui, e eu tenho certeza de que antes de ir deixei ali. Não podia estar em outro lugar. Não podia! Então sentei-me na cama e tornei a fazer o mesmo desenho, enquanto pensava nas mesmas coisas - na maioria das vezes só pensava naquilo mesmo, não era escolha própria, eu não tinha mesmo muito o que pensar.
Parecia apenas uma menina boba insistindo no mesmo erro pela terceira vez, mas não era! Aqueles pássaros saindo com o pouco de esperança que aquela gaiola que os abrigou por cinco ou seis meses deixou escapar. Pássaros que deveriam estar tristes mas, como bons seres, agradeciam pelo que tinham de bom: a liberdade.
E eu os invejava, tanto pela sua liberdade, quanto por ser feliz com o que tinham. Era pouco. Muito pouco. Quase nada. Era muito. Incrível. Era tudo!
Eu queria ser eles e dei o grito de liberdade, masfoi como esperado, ou pior. Risos. Deboche. Liberdade negada. Eu quero. Eu penso. Eu não consigo falar. Eu quero gritar. Eu preciso. Eu tentei. Não. Eu não desisti.
E tornei ao meu quarto quieta. Pus a mão na fechadura. A girei. Senti o peso da porta. A porta roncou. E sem pensar duas vezes olhei para a mesinha tão bem posicionada, ilumidada pelo sol. Confesso que já esperava que ele não estivesse mais ali. Então desviei rapidamente o olhar, não perdi tempo procurando. Frio, tempo frio, porém um raio de sol no meu rosto que iluminava sem parar. Vento forte. Cócegas nos pés. Me volo para eles, e lá está. Ele estava nos meus pés como se eu o tivesse guardardo em mim o tempo inteiro. Me inclinei um pouco, o segurei firme e passei horas, dias admirando aquela imagem!
Pássaros em fila saindo de uma gaiola.
E finalmente eu entendi que cada um tem a liberdade que merece, e enquanto eu não tivesse a minha. Destinaria meu tempo a libertar os que merecem.
E adormeci.




AK

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